Sobre o FFC
   Corria o mês de setembro do ano de 1960 na pacata Laranjal Paulista, então com menos de dez mil habitantes. A cidade, que experimentará seus avanços mais importantes por direta influência da Estrada de Ferro Sorocabana, que por aqui deitou seus trilhos nos idos de 1884, estava prestes a ver nascer um modesto clube futebolístico. Inspirados nos sucessos da Associação Atlética Ferroviária de Botucatu e do Estrada de Futebol Sorocabana, de Sorocaba, dezenas de ferroviários aqui residentes reuniram-se num estabelecimento comercial do Largo São João, n. 228, e resolveram fundar um clube desportivo que denominaram Ferroviário Futebol Clube. A primeira disputa entre os fundadores deu-se na escolha das cores. Afinal prevaleceu o “alviverde” desejado pelos “palestrinos”.
   O fato deu-se no dia 12 de setembro e, portanto, no 12 de setembro deste ano o Ferroviário F.C. completa 50 anos de existência. A Ata da fundação foi assinada por 57 cidadãos laranjalenses, a grande maioria composta por ferroviários, amantes do esporte bretão. Desses, para contar essa história, temos ainda entre nós os senhores Camilo Palandri Júnior, Elbio Roma e Plínio Silveira Lara. Infelizmente, a grande maioria já nos deixou.
   A exemplo de dezenas de outras cidades que floresceram no início do século passado no Estado de São Paulo, às margens das várias ferrovias que se entrelaçavam (Sorocabana,   Santos-Jundiaí, Paulista, Noroeste, Mogiana, Ituana, Araraquarense, etc.), Laranjal Paulista tinha um grande contingente de ferroviários aqui residindo. Nos tempos áureos esse número passou de 600 (seiscentos) empregados, o que vale dizer que, contando com seus familiares os ferroviários representavam cerca de vinte por cento do total de nossa população. Eram brasileiros de várias origens e descendências os ferroviários (portugueses, italianos, espanhóis, sírios, libaneses, africanos...), a grande maioria filhos de famílias das próprias cidades da região, fruto dessa intensa miscigenação que caracterizou a formação populacional desta parte do interior de São Paulo.
   O Primeiro Presidente do Ferroviário F.C. foi o Senhor Nicola Moccio. No início o time de futebol utilizava um campo de terra batida, pouco abaixo da Estação da Sorocabana, local que depois fez parte de um grande loteamento que ganhou o nome de Vila Zalla, uma das maiores e mais populosas desta cidade hoje em dia.
   Mas os ferroviários queriam ter seu campo de futebol e sua sede social. Houve um tempo em que se discutia a respeito de direito de utilização do Estádio “Acácio Luvisotto” que, então, na década de 60, pertencia a Associação Esportiva Laranjalense. Mas o terreno, que pertencera à Estrada de Ferro, fora doado para a Prefeitura Municipal. Enfim, pondo fim a essa polêmica, a Prefeitura assumiu o Estádio e o Ferroviário acabou também utilizando-se de suas dependências, chegando a sagrar-se Campeão Amador Regional no ano de 1.967.
   Nesse mesmo ano de 1.967, tendo como Presidente e Senhor Ruy de Campos Silveira, o Ferroviário conseguiu a posse “precária” do terreno em que se encontra a sua sede social, na Praça Armando de Salles Oliveira, centro da cidade. Como ocorrera com a sede da Ferroviária de Botucatu, edificada sobre um “brejão”, a sede do Ferroviário seguiria a mesma sorte. O terreno, quase todo alagadiço, por pouco não engoliu uma máquina de esteira cujo proprietário fora contratado para fazer a terraplanagem no local. “Ficou só a chaminé de fora” diziam os que torciam contra as obras, por razões clubísticas.
   Aquele “fiasco” inicial, porém, serviu de inspiração e motivação para um mutirão jamais visto, destinado a secar o terreno e deixá-lo em condições de receber edificações. Todos os finais de tarde, domingos e feriados, uma multidão de ferroviários saia da dura lida da “via permanente” e da “via aérea”, com pás, enxadas, picaretas e marretas nas costas, para vir dar mais três ou quatro horas de trabalho na abertura de valetas e colocação de pedras para a drenagem daquele terreno. Foi um trabalho abnegado e espontâneo, sem qualquer vantagem ou recompensa. Muitos meninos, filhos de ferroviários, animados, acabavam participando. Em poucos meses o terreno estava seco e máquinas voltaram ao local para a terraplanagem que foi feita inicialmente em três níveis, num projeto do engenheiro Doutor Carlos Fernando Pacheco dos Santos Lima, na ocasião ocupando o cargo de Diretor Social do Ferroviário F.C.
   No dia 10 de Outubro de 1.967 foi declarada criada a “Parte Social” do Ferroviário F.C. e decidiu-se pela construção de um “conjunto de piscinas” e instalação um parque infantil, este  que receberia o nome de “Parque Infantil Doutor Bandeira de Mello”, em homenagem ao Superintendente da Estrada de Ferro Sorocabana que autorizara a cessão do terreno, exatamente ao apagar das luzes da E.F. Sorocabana que viria ligar-se a outras e transformar-se na FEPASA - Ferrovias Paulistas Sociedade Anônima, coincidindo com o início da decadência do sistema ferroviário brasileiro como um todo.
   No dia 10 de Maio de 1.970, Dia das Mães, as 10:00 horas, ocorreu a solenidade de inauguração da “Parte Social” do Ferroviário F.C., com a presença do Deputado Doutor Arquimedes Lamoglia, do Prefeito Senhor Hermelindo Pillon e de seu Vice-Prefeito Senhor Arquimedes Bataglini. Discursou em nome da entidade e representando o engenheiro Doutor Luiz Leite Bandeira de Mello, o engenheiro Doutor Carlos Fernando Pacheco dos Santos Lima. Na Ata está registrado que vários membros da diretoria foram jogados nas piscinas, em comemoração pela inauguração do até hoje imponente parque aquático.
   A agonia da Estrada de Ferro Sorocabana também marcou o paulatino desaparecimento dos ferroviários da ativa de nossa cidade. Hoje, com a ferrovia quase que inteiramente sucateada, praticamente não temos mais ferroviários da ativa residindo aqui. O clube, porém, continuou sendo administrado por valorosos ferroviários laranjalenses aposentados e, ao longo dos anos, foi edificando novos e modernos espaços para recreação, esportes e lazer, tais como o ginásio de esportes, academia de ginástica, salão social, quadras de tênis, campo de futebol de grama artificial além de amplas e constantes reformas em instalações e equipamentos já existentes. Em fevereiro de 1983 o Doutor José Maria Marin, Governador do Estado, sancionou Lei que transferiu definitivamente, por doação, ao Ferroviário, a área de terreno onde se aham sua sede social e demais vistosas edificações.
   Dois ferroviários aposentados que não chegaram à presidência mas merecem destaques especiais pela dedicação e carinho com que trataram o patrimônio do F.F.C., foram os dirigentes senhores Benedito de Almeida Matos e Evangelista Pissato. O primeiro nos anos 70 e 80, o segundo a partir dos anos 90 e até recentemente, deram enorme contribuição pessoal para o engrandecimento do Clube. Nos anos 60 o destaque ficou para o então também Diretor de Patrimônio, Arlindo Alves Lima, espécie de “faz tudo” na época.
   Foram os seguintes os Presidentes do Ferroviário nestes seus primeiros 50 anos: Nicola Moccio (de 1960 a 1968), Ruy de Campos Silveira (de 1979 a 1974), Hélio Barbieri (de 1975 a 1984), Gabriel Marciliano (de 1985 a 1988), Roque Lázaro de Lara (de 1989 a 1994) Camilo Palandri Júnior (1992), Gabriel Marciliano (de 1995 a 1996), Gabriel Marciliano Júnior (de 1997 a 2004) e Paulo Roberto Barbieri (de 2005 até aqui).
   O Ferroviário Futebol Clube conta atualmente com 744 sócios nas categorias patrimoniais, sociais, fundadores e atletas e proporciona a esses associados e dependentes diversas atividades sociais, recreativas e desportivas, com acompanhamento de professores e monitores. Suas baladas para jovens e bailes para a terceira idade são muito concorridos e o “Baile do Hawai” é sempre aguardado com entusiasmo. A bem montada academia de ginástica recebe muita gente interessada em manter a forma física, todos os dias. E várias modalidades esportivas são desenvolvidas, inclusive o futebol amador, para manter a tradição.
   No dia 12 de Setembro de 2010, como toda pompa e circunstância, os sócios e dependentes do Ferroviário comemoraram seu primeiro cinqüentenário com um grande “Baile de Gala” que será abrilhantado pela orquestra “Leopoldo de Tupã”, uma das remanescentes mais famosas dos áureos, glamourosos e fascinantes anos sessenta.
Gabriel Marciliano Júnior
Pr. Armando Sales de Oliveira, 100
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